Estou presa. Presa em ti; presa a
ti. Sinto-me perdida. O amor que outrora sentíamos um pelo outro desvaneceu-se.
O que sinto por ti permanece aqui, intacto, como uma folha de papel nunca antes
rasgada; como um copo de vidro antes de me escorregar pela mão e cair no chão.
O que dizias sentir por mim acabou. Acabou sem sequer me dar um aviso. Acabou
sem haver oportunidade de lhe fazer uma despedida. Sem uma última carícia, um
último toque, um último beijo. Foi tudo tão rápido. Gostava que tivéssemos uma
última conversa para desvendar todo o mistério que foi este final a que tivemos
direito.
Tínhamos tudo para dar certo mas
não demos e, em parte, sinto-me culpada. Sinto que sentias que faltava algo em
mim. Nunca chegaste a dizer-me o quê e, se ficar a depender de que me digas,
ficarei na ignorância por muitos dias, meses, talvez até anos. Porque sei que
não vais dizer-me. Como nunca disseste o quanto gostavas de mim, de verdade.
Era tudo dito da boca para fora, não era? Se não era, é o que dás a entender
agora.
Nada do que passámos me sairá da
memória. Passem os anos que passarem. Tudo ficará aqui gravado. A primeira troca
de olhares naquele restaurante; a primeira mensagem; a primeira saída; a
primeira dança; a primeira chamada; aquela noite – oh, aquela noite de Dezembro
que passámos a dançar numa discoteca em Lisboa… As idas à praia; o que prometemos
e o que não vamos cumprir – não porque não queira, mas porque não permites que
seja cumprido. Nada disso sairá da minha memória. E sabes porquê? Porque foi
por ti que me apaixonei. De verdade. A ti me entreguei sem medos nem receios.
Quis entregar-me sem medo de perder. Sem medo de te perder. E no fim perdi-te,
mesmo sem sequer te ter.
Perdoa-me. Perdoa-me por não ter
sido a miúda que idealizaste. Perdoa-me por não ser aquela com quem imaginaste
ter uma vida (embora o tenhas mencionado algumas vezes). Perdoa-me por não ter
sido a tua escolhida.
Agora só quero que me libertes.
Liberta-me deste sentimento de culpa que tenho. Preciso que me libertes e que
me deixes ir, que me deixes seguir com a minha vida. Só assim serei feliz.
Embora o quisesse ser contigo, e só contigo, se não for para ser, liberta-me
para que eu encontre o meu caminho.
Hoje ainda me sinto presa. Presa em
ti; presa a ti.
A.
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