Ainda
levo comigo um pouco de ti. Sempre levarei, eu sei. É difícil não levar quando
há uma história como a nossa, quando há memórias como as que construímos,
quando se passa pelo que passámos juntos. E, por isso, levar-te-ei sempre no
meu coração. Num pequeno cantinho reservado a ti e a nós.
O
teu bocadinho mexe. Mexe quando ouço as nossas músicas, quando vejo a nossa
fotografia, quando sinto o teu perfume no ar. Mexe quando passo pelos nossos
sítios, quando vejo os nossos filmes, quando leio a fita de finalista que me
escreveste. Todos os dias mexe um bocadinho. E há dias em que mexe muito.
Lembro-me
de tudo. De todas as nossas conversas, dos planos que fazíamos, de quando
falávamos sobre como seria se vivêssemos juntos. Lembro-me das vezes em que me
convidaste para momentos românticos em S. Martinho do Porto ou num pequeno
apartamento na zona histórica de Lisboa. Planos que não se cumpriram, mas que
permaneceram na minha memória, sempre com a expectativa de que, um dia, se
cumprissem.
Levo
comigo um pouco de ti e sempre levarei. Sempre que adormecer, lembrar-me-ei das
nossas noites juntos, das noites em que dormíamos agarrados um ao outro, das
noites em que podia fingir que era amada. Sempre que acordar, lembrar-me-ei das
nossas manhãs, das manhãs em que eu passava a mão pelo teu cabelo e te dava
beijinhos na testa para acordares, das manhãs em que me beijavas e me dizias
“bom dia” mesmo depois de já me teres dado o melhor “bom dia” de sempre.
Levo
comigo um pouco de ti. Plantaste esse bocadinho em mim há cinco anos.
Deixaste-o crescer sempre com a promessa do teu regresso. E agora permanece
aqui, enraizado, entranhado no meu coração. Daqui já não sai. Levarei sempre
comigo um pouco de ti.
Mas
agora arranjei espaço para um bocadinho de outro alguém. És insubstituível,
sim. Mas não quiseste ser o meu único, o meu tudo. Esse lugar será para outra
pessoa. Alguém que leve também um bocadinho meu sempre consigo. Alguém com quem
eu mexa sempre que ouvir as nossas músicas, os nossos filmes, sempre que sentir
o meu cheiro, sempre que passar pelos nossos lugares. Alguém que se lembre de
tudo e que cumpra as suas promessas. Alguém que se aventure comigo pelo mundo
fora. Alguém que durma agarrado a mim, não para fingir que é amado, mas para o
saber. Alguém que faça tudo para acordar todos os dias ao meu lado.
Levo
comigo um pouco de ti, sim. Sempre levarei. Mas, agora, também levo comigo um
pouco de alguém onde eu queria que estivesses. Onde não quiseste estar. Onde
outro quis pertencer.
M.