quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Carta




Meu amor bom,

Nada do que te escrevo aqui é algo que não te tenha dito já.
Perguntaste-me por que deixei de escrever: porque tu apareceste.
A minha inspiração vinha da minha dor, da minha necessidade de tentar expressar aquilo que estava emaranhado na minha mente - e no meu coração. 
Quando tu apareceste, a dor desapareceu. E tem sido assim sempre.
Sinto-me sortuda por te ter conhecido. Sei que não acreditas na sorte, que não acreditas em coincidências, que o que acontece acontece porque tem de acontecer. E tu tinhas de me acontecer. Mas sei que é muito difícil encontrar alguém como tu, alguém que oiça, que esteja presente, que ame e mostre que ama. Temos o amor que achamos que merecemos. E nós merecemo-nos. 
És a pessoa com quem me rio como nunca me ri. És a pessoa que me atura como nem eu me aturo. Com paciência de santo. És a pessoa que me faz amar e sentir amada. Com quem me vejo no futuro, na nossa casa, com a nossa família. És a pessoa que me faz sentir feliz.
És o meu amor doce, meu amor bom.

MS

sexta-feira, 8 de junho de 2018

És o dia que não vem



Odeio. Odeio estes momentos sem ti. Estes momentos em que não te sinto na minha vida, apesar de estares sempre presente. Nas minhas memórias de ti, contigo, no meu coração onde te trago sempre, na minha alma que pertence à tua, em mim, dentro de mim.
Odeio as noites que passo sem ti. Odeio dormir sozinha - odeio dormir sem ti agarrado a mim.
Odeio que não me sintas como te sinto a ti. Ou que assim faças parecer.
Acendo um cigarro enquanto olho as ondas. E pergunto-me: mergulhar nelas não será tão doloroso quanto mergulhar nesta solidão, neste sofrimento. Deixar-me afogar no mar gelado não será tão doloroso quanto estar sem ti.
"Tudo fica hardcore e eu sei-te de cor".
E sei que se eu largar eu sinto a sua falta. E se eu agarro ela perde a cor.
Insistes em ser o dia que não vem.

M.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Carta que nunca te enviei IV



G.,
Prometo que é a última carta que te escrevo. Ainda que não acredite muito nisso.
Já nos despedimos tanta vez e ainda assim voltamos sempre para os braços um do outro; é como se fosse fisicamente impossível estarmos separados por muito tempo.
Mas desta vez tem de ser - era suposto dizer-te adeus para sempre, mas só me consegui ficar por um adeus por tempo indefinido. Só nos conseguimos ficar por um "até já", porque, como dizes, não te sabes despedir de mim. Mesmo depois de tantas despedidas.
Não sabes o que me custou - foi a decisão mais difícil da minha vida. Dar um fim à nossa não-relação, ter de lidar com a tua ausência, ausência essa provocada por mim, consequência da minha decisão. Mas a dor de te ter e não te ter completamente é demasiada. Não consigo ter metade de ti quando preciso de ti inteiro. Não te consigo dar metade de mim quando preciso de te dar tudo de mim. Não consigo lidar com uma não-relação quando tudo o que quero é partilhar uma vida contigo. Porque tu gostas de mim, mas eu amo-te. Ainda que me quebre.
Por isso, espero conseguir seguir em frente. Sei que tu também o vais fazer. Quero que presencies o resto da minha vida e quero presenciar o resto da tua, ainda que paralelamente, lado a lado, e não como protagonistas na vida um do outro, apesar de o desejar mais que tudo.
Portanto, este não é um "adeus", é um "até já". Recordar-me-ei sempre das nossas noites juntos, das nossas aventuras, dos meus momentos de ebriedade contigo, das lágrimas, dos risos e dos sorrisos, da cumplicidade e intimidade, de dormir no teu peito, dos nossos episódios de alívio da tensão sexual um do outro. Recordarei sempre cada conversa, cada olhar, cada gesto. E principalmente as palavras que nos definem, que sempre definiram e sempre definirão: "Se eu largar eu sinto a sua falta, se eu agarro ela perde a cor". E, com algum peso na consciência, recordarei sempre que a vida é feita de ciclos e que os ciclos tendem a repetir-se. Parte de mim deseja que seja verdade, e a outra parte deseja que o nosso ciclo não se repita, para dar espaço a outros ciclos e a outro amor, e que possa finalmente seguir em frente e ser feliz.
Amo-te desde sempre e para sempre.
Até já.

M.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Ela

http://glow-lovely.tumblr.com/

Ela não entendia. Não entendia mais. A fórmula de um caso de uma noite deixou de fazer sentido. O investir. Investir tempo, dinheiro e combustível em algo sem futuro. Em alguém que não voltaria a falar com ela depois de um momento mais íntimo. Alguém que não voltaria a mandar mensagem. Alguém que não quereria mais saber dela.
Ela deixou de entender. Deixou de o querer. Umas horas para a fazer esquecer-se de quem era deixaram de ser suficientes. Tal como ela sentia que não era suficiente. Ela sempre tivera este mal: não querer quem a queria, mas querer quem a não queria.
E lá voltava ela à praia. Vezes sem conta, fossem que horas fossem. Ver a forma como as ondas continuavam a emergir e a desaparecer, quando tudo o que queria era mergulhar e não voltar à superfície. Submergir no mar em vez de se afogar nos seus pensamentos e sentimentos não correspondidos, pela primeira vez na sua vida.


M.

Espelho embaciado

Fonte: http://thisherelight.com/post/154694931416/the-places-we-go-part-x

Aqueles momentos em que finalmente me sinto seguro para agarrar a minha vida com tudo o que tenho e, de repente, o chão debaixo dos meus pés começa a rachar, como se de vidro se tratasse, e cai caco a caco, com a mesma intensidade com que cai a chuva num dia de janeiro, e eu especado a ver todo o tempo que demorei a chegar até ali, todas as forças e energias que investi para que a minha presença ali se fizesse marcar a desvanecerem, como que o meu rosto num espelho a embaciar. De repente, tudo fica turvo, nada se reconhece, aquele sorriso que me era característico, pelo qual todos me reconheciam começa a desaparecer, e com ele deixo também de conseguir ver a minha alma, que se espelhava nos meus olhos, estes passam a ser nada mais nada menos que duas linhas denegridas no tal espelho embaciado.
Já não sei quem sou, de novo volto à estaca zero. As inseguranças voltaram, e com elas voltaram também o medo e a angústia com que vivia. O chão que outrora parecia estar a rachar ainda aqui está, já não é pedra sólida mas sim vidro frágil. Ainda está inteiro à espera que uma última lágrima negra me caia pela face, para que eu possa cair também com todo o meu caminho, naquele vazio imenso.

F. C.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

De uma mulher que dormiu com homens com namorada



Especialmente para as namoradas dos homens com quem dormi.

Não sei como falar contigo. Sei que provavelmente me odeias e me vês como alguém diferente de ti. Possivelmente ver-me-ás até como inferior.
Sei que não queres desculpas para tentar explicar que o que aconteceu não foi culpa minha. Não tas vou dar. Mas vou-te dar algo para pensar.
São precisos dois para dançar o tango. Se algo aconteceu, ele permitiu e participou. Eu não sou uma bruxa que anda por aí a fazer feitiços para encantar os homens comprometidos. Sou uma mulher, com sentimentos, emoções, desejos, necessidades, como tu.
Não te peço desculpa. Não era eu quem tinha um compromisso e o quebrou, por alguma razão, seja ela qual for. Não fui eu que te traí. Eu fui apenas a pessoa com quem ele te traiu. Não lhe apontei uma arma à cabeça nem andei a mendigar amor, ou sexo, ou atenção. Eu não mendigo. Ele veio de livre e espontânea vontade.
Sei que isto te revoltará. Mas já estive desse lado. Sei que é mau. Sei que te faz questionar se serás suficiente para alguém. E sei que só comecei a viver tranquilamente quando cheguei à conclusão de que a culpa não é da outra. É dele.
Diz o que quiseres. Chama-me o que te aprouver. Mas fica sabendo que estou de consciência tranquila.

R. D.

domingo, 6 de novembro de 2016

As Minhas Saudades Tuas


Nem sei por onde começar. Só sei que sinto a tua falta.
Dou por mim constantemente a pensar quando é que me vais convidar para sair, de novo, como convidavas todas as semanas antes de nos termos envolvido.
Tenho saudades de quando era descomplicado contigo. Era uma das coisas que mais gostava em ti e na nossa amizade - não havia complicações e eras uma das pessoas mais acessíveis que conhecia. Sinto falta da altura em que bastava uma mensagem para estares comigo. Sinto falta da tua atenção e do teu carinho.
Mas, por alguma razão, depois de nos termos envolvido, tudo mudou. Não sei porquê, mas afastaste-te. De forma abismal. E isso magoou-me igualmente.
Tudo o que eu queria era voltar à nossa amizade de antes. À nossa amizade acessível, disponível e descomplicada. Mas tudo o que fizeste foi deixar-me com essas memórias e saudades. Essas memórias e saudades que não deixam de me assombrar.

R. D.