No outro dia, perguntaram-me porque gosto de ti.
Perdi-me nas palavras, porque gosto de tudo em ti. Até das coisas que não gosto.
O que mais gosto em ti é da tua inteligência, do teu
espírito crítico e opinado, das tuas perspectivas únicas e fundamentadas. Da
tua aceitação das pessoas como são. Do teu sentido de humor, do teu lado
criança. Do teu altruísmo, da tua bondade, da tua prestabilidade. Das tuas
inseguranças. Do teu feminismo no sexo. Dos teus olhos doces, dos teus lábios
que pedem beijos, da tua barba, do teu cabelo despenteado, das tuas bochechas,
das tuas “mãos de gaja”. Dos teus abraços, do teu pousar a cabeça no meu ombro,
dos teus beijos - na boca, nas bochechas, no nariz ou na testa, do dormir nos
teus braços. Ou tu nos meus. Do teu ressonar. Do teu gesto de me aquecer os pés
que estão tão frios que me perguntas se estou morta. De gozares comigo quando apareço
bem vestida à tua frente, de chamares "kimono" ao meu vestido preto
de renda, de gozares com a minha terminologia de "calções de inverno"
e "calções de verão". De me tapares os olhos quando estamos a ver um
filme. De me dizeres "logo à noite levas umas palmadas" e, após o meu
olhar de vê-lá-se-quem-não-leva-uma-lambada-és-tu, te rires e perguntares se
não gosto das 50 Sombras de
Grey, apesar de já saberes que não. De te olhares ao espelho e dizeres
"puro gato". Da tua cara de menino traquina apanhado com a mão na
caixa das bolachas. De cantares as músicas da praxe, do Sporting, dos desenhos
animados da nossa infância ou aquelas músicas ordinárias que se cantava na
escola primária.
Gosto de ti como gostava que gostasses de mim: por
completo.
Gosto de ti, e então?
M.