sexta-feira, 8 de junho de 2018

És o dia que não vem



Odeio. Odeio estes momentos sem ti. Estes momentos em que não te sinto na minha vida, apesar de estares sempre presente. Nas minhas memórias de ti, contigo, no meu coração onde te trago sempre, na minha alma que pertence à tua, em mim, dentro de mim.
Odeio as noites que passo sem ti. Odeio dormir sozinha - odeio dormir sem ti agarrado a mim.
Odeio que não me sintas como te sinto a ti. Ou que assim faças parecer.
Acendo um cigarro enquanto olho as ondas. E pergunto-me: mergulhar nelas não será tão doloroso quanto mergulhar nesta solidão, neste sofrimento. Deixar-me afogar no mar gelado não será tão doloroso quanto estar sem ti.
"Tudo fica hardcore e eu sei-te de cor".
E sei que se eu largar eu sinto a sua falta. E se eu agarro ela perde a cor.
Insistes em ser o dia que não vem.

M.

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Carta que nunca te enviei IV



G.,
Prometo que é a última carta que te escrevo. Ainda que não acredite muito nisso.
Já nos despedimos tanta vez e ainda assim voltamos sempre para os braços um do outro; é como se fosse fisicamente impossível estarmos separados por muito tempo.
Mas desta vez tem de ser - era suposto dizer-te adeus para sempre, mas só me consegui ficar por um adeus por tempo indefinido. Só nos conseguimos ficar por um "até já", porque, como dizes, não te sabes despedir de mim. Mesmo depois de tantas despedidas.
Não sabes o que me custou - foi a decisão mais difícil da minha vida. Dar um fim à nossa não-relação, ter de lidar com a tua ausência, ausência essa provocada por mim, consequência da minha decisão. Mas a dor de te ter e não te ter completamente é demasiada. Não consigo ter metade de ti quando preciso de ti inteiro. Não te consigo dar metade de mim quando preciso de te dar tudo de mim. Não consigo lidar com uma não-relação quando tudo o que quero é partilhar uma vida contigo. Porque tu gostas de mim, mas eu amo-te. Ainda que me quebre.
Por isso, espero conseguir seguir em frente. Sei que tu também o vais fazer. Quero que presencies o resto da minha vida e quero presenciar o resto da tua, ainda que paralelamente, lado a lado, e não como protagonistas na vida um do outro, apesar de o desejar mais que tudo.
Portanto, este não é um "adeus", é um "até já". Recordar-me-ei sempre das nossas noites juntos, das nossas aventuras, dos meus momentos de ebriedade contigo, das lágrimas, dos risos e dos sorrisos, da cumplicidade e intimidade, de dormir no teu peito, dos nossos episódios de alívio da tensão sexual um do outro. Recordarei sempre cada conversa, cada olhar, cada gesto. E principalmente as palavras que nos definem, que sempre definiram e sempre definirão: "Se eu largar eu sinto a sua falta, se eu agarro ela perde a cor". E, com algum peso na consciência, recordarei sempre que a vida é feita de ciclos e que os ciclos tendem a repetir-se. Parte de mim deseja que seja verdade, e a outra parte deseja que o nosso ciclo não se repita, para dar espaço a outros ciclos e a outro amor, e que possa finalmente seguir em frente e ser feliz.
Amo-te desde sempre e para sempre.
Até já.

M.